Comissão da Verdade da UFRN realiza audiência pública no CERES-Caicó
AGECOM/Cícero Oliveira |
A Comissão da Verdade (CV) da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN) realizou uma Audiência Pública no Centro Regional
de Ensino Superior do Seridó (CERES), em Caicó, nessa terça-feira, 17. A
reunião foi realizada com o objetivo de ouvir depoimentos de pessoas
que viveram no período da Ditadura Militar (1964 até 1985).
Para o vice-presidente da Comissão da Verdade da
UFRN, Ivis Bezerra, o intuito é descobrir o que de fato ocorreu durante o
Regime Militar na Universidade. “A Ditadura impedia o livre pensamento,
que é a base da Instituição, mas também queremos saber sobre os
episódios trágicos, como torturas e mortes, que aconteceram”, explica.
No turno da manhã, foram ouvidos os depoimentos dos
professores do CERES-Caicó. O chefe do Departamento de Ciências Exatas e
Aplicadas, Celso Luiz Souza de Oliveira, contou que começou a trabalhar
em Caicó no ano de 1982. “Desse período, o que sabemos a respeito da
Ditadura aqui é o que se falava nos corredores. Não sabíamos e nem
procurávamos saber, mas ouvíamos que fulano de tal havia sido chamado
para depor no batalhão (quartel do Exército Brasileiro do município)”.
O professora do Departamento de Geografia, Isabel
Cristina dos Santos, contou que, como nasceu em 1965, teve a infância e a
adolescência “perturbada”. “Vivi em um bairro calmo de Caicó, mas
lembro que, quando passava um avião, eu e meus irmãos corríamos gritando
que era guerra”.
“Em 1984, entrei no CERES no curso de Geografia e
comecei a me envolver nos movimentos sociais e estudantis. Tínhamos um
certo temor, mas, como eu era engajada, eu e meus colegas enfrentávamos
tudo. Lembro de uma professora de Reforma Agrária que tremia muito na
sala de aula e, quando começávamos a fazer perguntas, ela mandava a
gente calar a boca. Outro professor de Estudos dos Problemas Brasileiros
também pedia que a gente não levasse esses assuntos à sala. Um dia ele
teve um problema cardíaco e a coordenação pediu que eu não levantasse
esses temas na aula dele”, lembra Isabel.
Sandra Kelly de Araújo, chefe do Departamento de
Geografia do CERES-Caicó, começou a estudar no Centro em 1983, aos 16
anos. “Minha percepção foi muito dispersa. Tínhamos uma formação muito
superficial sobre política, cidadania e cultura. A proposta de ensino
era assim, a conjuntura social estava refletida na formação acadêmica,
mas senti tudo de uma forma implícita, era tudo incorporado”.
“Aqui em Caicó a palavra ‘comunista’ era um palavrão.
Um short curto ou uma mãe solteira era comunismo. O ‘Diretas Já’
(movimento civil que lutou por eleições presidenciais diretas) foi algo
que assisti na TV, não me lembro de movimentos nas ruas daqui”, conta
Sandra Kelly.
Foram convidados ainda o monsenhor Ausônio Tércio de
Araújo, diretor do Colégio Diocesano Seridoense; Joseilson Ferreira de
Araújo, secretário de Organização do PCdoB; Salomão Gurgel,
ex-presidente da União Estudantil Caicoense; e João Batista de Brito,
irmão de Zoé Lucas de Brito, que foi preso e morreu no período do Regime
Militar.
Além do vice-presidente da Comissão, Ivis Bezerra,
participaram ainda o professor José Antonio Spinelli; o servidor da UFRN
Moisés Alves; o estudante Juan Almeida e a secretária-executiva Kadma
Maia. Já do CERES-Caicó, houve a participação da diretora do Centro, Ana
Aires; do professor de História Almir Bueno e de alunos.
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